Jean-Claude Olivier dirigiu a Yamaha France desde o ano de 1966 até 2010, e levou a marca até a liderança na França, ao mesmo tempo em que brilhou em competições
A história de Jean-Claude Olivier e de sua associação com a Yamaha é muito interessante, em vários aspectos. Nascido em 27 de fevereiro de 1945, filho de Gonzague Olivier, que havia participado em corridas de automóveis no volante de carros Porsche junto com Auguste Veuillet, ele havia acabado fazendo um estágio na Sonauto, importadora da marca alemã na França, sob a direção do mesmo Auguste Veuillet. Tempo depois havia aceito sua proposta de tentar desenvolver a marca de motos japonesas Yamaha, da qual havia obtido o contrato de importação.
Equipado de uma camioneta J7 (Peugeot) pintada nas cores da fábrica, nas quais estavam colocados os quatro modelos da marca (uma 80cc YG-1, uma 125 YA-6, uma 250 YD-3 e uma YDS-3), ele percorreria a França inteira a partir de 1966 para apresentar aos revendedoras do país as máquinas dos três diapasões. O início, ao mesmo complicado e muito rico em experiências, ajudaria a estabelecer a sua reputação e o crescimento da Yamaha no plano comercial. Rapidamente, ele associou a parte comercial e a competição ao apoiar inscrições em competição e também pilotos como Jean Aureal, que venceu o GP da França 125cc em Le Mans em 1969.
Ele também cuidou da imagem da marca Yamaha ao oferecer à atriz Brigitte Bardot o trail-bike AT-1. As fotos da star, com botas até em cima das coxas (obrigado, Serge Gainsbourg!) no guidão da pequena japonesa logo deram a volta ao mundo, sendo motivo de orgulho para os chefes da Yamaha. Com isso, JCO marcou um ponto decisivo.
No respeito às corridas, ele contratou Patrick Pons em 1973, que tornar-se-ia o primeiro dos seus campeões mundiais, em 1979 (velocidade F-750). Seguiram, com as cores da Yamaha-France, Christian Sarron (campeão mundial GP 250 em 1984), Christian Vimond (campeão mundial MNX 250 em 1986), depois Stéphane Peterhansel no Enduro (duas vezes campeão mundial e cinco vezes vencedor da classificação scratch individual nos Seis Dias) e sobretudo no Paris-Dakar (seis vitórias, recorde), ou Arnaud Demeester (7 vitórias no Enduro Le Touquet, recorde também). Entre outros…
Um homem de ação
Ele era “o Presidente-Diretor-Geral mais rápido do mundo de moto” Ele achava que era indispensável saber andar rápido, e ainda mais em competições: ”Aquele que não sabe andar de moto não pode comunicar com aquele que sabe. Eu teria um complexo se não soubesse pilotar. E não seria capaz de captar muitas coisas, impressões, o “feeling”. Estas palavras foram publicadas na revista Moto Verte em 1979. Nesta mesma entrevista, perguntado sobre a definição que daria dele próprio, ele respondeu: *Como homem de ação gosto de enfrentar situações difíceis, de ter que tomar decisões. A minha principal qualidade? A integridade”. Além de dirigir a casa Yamaha France rumo à liderança comercial durante longos anos e de dividir-se entre esta tarefa e suas incursões espetaculares no cenário da competição, Jean-Claude Olivier possuía a arte da comunicação, que nada mais é que a arte da encenação. No mais alto grau de eficiência deste homem de caráter, ele usou desta qualidade ao longo de toda sua carreira, e deixou, na hora de se aposentar em fevereiro de 2010, um testemunho bastante completo dos seus 44 anos passados na direção da empresa, à qual, afinal de contas, consagrou toda a sua vida profissional. Um tipo de balanço pessoal por encerramento de contas. Depois de sua morte brutal, no dia 12 de janeiro de 2013, este balanço tomou a dimensão de um testamento. Extratos…
Ano 1966
“Na época da minha primeira viagem com o Peugeot J7 e minhas Yamahas, refleti no sentido dos três diapasões e impôs a mim mesmo três prioridades:
– Social: tinha a chance de ter sido educado num meio privilegiado. Me comprometi em nunca fazer nenhuma discriminação, seja qual for a natureza: um freguês é um freguês.
– Meio-ambiente: não tenho nenhum futuro nesta profissão se não consigo inscrever a marca pela qual estou trabalhando dentro da sociedade moderna., Naquela época, a motocicleta era muito marginalizada. Os motoqueiros eram marginais. Era urgente que a moto se integrasse na nossa sociedade e que o comportamento dos motoqueiros mudasse. Paralelamente, os produtos tinham que ser menos poluentes e menos barulhentos. Era necessário acabar com o barulho antes que o barulho acabasse com a moto. “O presidente Georges Pompidou (Nota Trad. Presidente francês de 1969 até 1974) em visita no Salão da Moto, endereçou-me a palavra nestes termos: “E então? São vocês que acordam Paris de noite, às quatro horas da madrugada …”
– Mas, no mesmo tempo, era também importante que a sociedade entendesse que a moto era necessária ao equilíbrio da juventude na mesma altura que o esporte, pois ela carrega uma imagem enorme de evasão e de liberdade, num sistema que está dirigindo-se cada vez mais rumo a restrições de liberdade.
Ano 1976
“Segunda edição do Enduro de Le Touquet, no qual termino em segundo. Sempre vou lembrar-me deste Touquet: estava voltando de um congresso de concessionários em Ceilão, e durante a escala em Moscou onde fazia 30 graus negativos, tive que dormir nos banheiros, que era o único lugar com aquecimento em todo o aeroporto. Le Touquet é a minha região e o enduro é uma das minhas paixões. Participei 25 vezes neste mítico enduro das areias. Terminei 15 vezes entre os 20 primeiros. Em minha derradeira participação em 2003, acabei em 48° em mais de 1000 participantes.
Neste mesmo ano de 1976, houve o lançamento da mítica XT 500, e inscrevemo-nos no Rali Abidjan-Nice. A XT 500 abriria o caminho dos ralis africanos. Esta moto seria chamada de “a rainha do deserto”. Cerca de 18000 unidades foram vendidas.
Ano 1977“
Chegada no mercado da DT 125 MX (moto com sistema Cantilever e parente da nossa DT 180), cujo sucesso foi sem precedente: 29000 unidades vendidas no primeiro ano, 90593 vendas em 10 anos, um recorde ao qual é preciso acrescentar as 18200 vendas da sua “prima” DT 125.
Ano 1979
Primeira inscrição no Paris-Dakar com uma Yamaha XT 500, participei nove vezes entre 1979 e 1996, exceto dois abandonos depois de tombos, terminei em 6°, 7°, 9°, 11°, 12° e até cheguei em segundo lugar em 1985. Desde o primeiro Dakar organizado por Thierry Sabine, percorri mais de 200.000 quilómetros na África. Tive alguns ferimentos leves, mas não são nada em comparação com os grandes momentos de felicidade que vivi ao longo desta aventura humana. A riqueza de um homem é de poder realizar-se através de suas paixões, e o Dakar proporcionou-me a capacidade de construir uma indestrutível vontade para perseguir meus objetivos na vida profissional, pois tive uma sorte única, de ter exprimido minhas vontades através do meu itinerário profissional na Yamaha. Hoje, realizo a qual ponto Yamaha é diferente das outras empresas ao ter-me deixado escolher meu estilo de vida e de management. Meus diretores me deram a oportunidade de satisfazer meu gosto de ultrapassar-me e de enfrentar desafios.
Ano 2010
Minha paixão tem 4 direções: ar, mar, terra e deserto. Meu pai construía barcos e, quando jovem, fiz esqui náutico, veleiro, prancha a vela, e depois scooter de água e, evidentemente, moto, quadri, etc. É esta prática de esportes que contribuiu ao meu equilíbrio. Nasci com a paixão da competição e da velocidade, é hereditário. Meu pai disputou seis vezes as 24 Horas de Le Mans de carro. A competição e o business são intimamente ligados. Os negócios são uma forma de competição e a competição está sempre ligada aos negócios. O sucesso sempre está dividido com a equipe. O homem de competição que ganha, sempre o faz em equipe, nunca sozinho. A marca é mais forte do que qualquer homem. O homem não é a proa da marca.”
12 de janeiro 2013
Jean-Claude Olivier estava dirigindo seu carro, acompanhado de sua filha, grávida, indo visitar seu pai no hospital no norte da França. Na autoestrada (A1), na mão contrária, o motorista de uma carreta perdeu o controle de seu veículo e estourou o muro do canteiro central que separava os dois sentidos de circulação, invadindo a pista onde circulava JCO. Foi preciso apenas uma fração de segundo ao ex-chefe-piloto para tomar sua última decisão. Virou o volante para a direita para salvar a vida de sua filha. Ele não sobreviveu à colisão. Este último gesto é um perfeito resumo do tipo de homem que ele era.
Coleção Moto Revue Classic
Artigo traduzido e revisado por Marc Pétrier, consultor internacional do Giro Azul